Custos excessivos de processos, tempos de setup elevados, desperdício de matéria prima, atrasos nas entregas, insatisfação dos clientes, horas extras em excesso sem resultados efetivos, gargalos de produção, máquinas ou ferramentas adquiridas sem necessidade...
Certamente você já se deparou com algum dos problemas acima, certo? Essas situações infelizmente acontecem regularmente no chão de fábrica das indústrias.
E eu digo infelizmente pois esses cenários possuem remédios e muitas vezes as pessoas desconhecem.
Para contextualizar a solução, compartilho com vocês um pouco da experiência que tive em uma das maiores indústrias de bebidas, mais precisamente, focado na logística de distribuição.
Uma experiência interessante na Logística
Na época, os motoristas e auxiliares de descarga chegavam no CD (Centro de Distribuição) por volta das 6:15 da manhã e realizavam o seu “setup”. Colocam os uniformes, recebiam as rotas que iriam fazer para entregar os pedidos e participavam de uma palestra com informações importantes para o dia. Finalizado este processo, eles começavam a percorrer suas rotas e entregar os pedidos nos PDVs (Pontos de vendas), como mercados, bares, casas noturnas e etc.
Os que fariam trajetos mais próximos recebiam mais entregas, já os que teriam que viajar uma distância maior para fazer as entregas recebiam menos, a fim de balancear a capacidade e evitar excesso de jornada de trabalho.
Diariamente, alguns “carros” voltavam das entregas após o horário de expediente, gerando custos de horas extras. Os motoristas afirmavam que era a única alternativa para entregar tudo que foi solicitado e não deixar os clientes com falta de material.
Alguns dias, mesmo com horas extras não conseguíamos entregar todos os pedidos. E isso significava prejuízo duplo: para o comerciante que deixava de faturar e para nossa empresa que ao não ter o produto na gôndola perdíamos a venda para a concorrência.
Diversas vezes foi cogitada a hipótese de contratar mais auxiliares ou motoristas (recursos), e consequentemente mais caminhões (máquinas) para resolver o problema, porém devido ao alto custo, a ideia ficava apenas no papel.
Outro problema constante era o custo elevado das entregas, pois observávamos que o consumo de óleo diesel dos caminhões corriqueiramente estava muito acima do que era projetado. Sem contar na quilometragem rodada, onde era planejado rodar 60km em um roteiro e o hodômetro apontava 90km, 100km... causando mais custos de desgaste dos pneus, manutenção entre outros.
Sabíamos que a operação era ineficiente, porém culpávamos os PDV’s (clientes) por definirem poucos horários de janela de recebimento de mercadoria, ou as ruas e estradas precárias da região, que obrigavam os motoristas a alternarem as rotas, entre outros problemas externos.
Um dia decidimos resolver esta questão! Assumimos a responsabilidade desses problemas para nossa empresa (que sempre foram nossas e nunca externos) e vimos que para solucioná-los precisaríamos do auxílio da tecnologia, pois havíamos chegado no limite de uma operação sem ferramentas adequadas.
Foi então implantado um sistema de telemetria. Para quem não conhece, é um sistema de monitoramento de frota, que além de passar informações em tempo real da localização de cada caminhão, mostrava-nos outras informações, como velocidade (para prevenir acidentes de trabalho), trajeto percorrido, entre outras.
Com esta visualização, tornou-se possível enxergar com antecedência tudo que havia sido entregue e o que ainda estava faltando. Por exemplo: enxergávamos com antecedência a localização de um caminhão e que o pedido de um cliente chegaria um pouco depois das 18 horas (horário combinado), devido a sua distância. Entravamos em contato questionando se era possível aguardar um pouco mais pois faríamos a entrega com um pequeno atraso. Anteriormente, chegávamos no estabelecimento depois do horário agendado e ele já estava fechado, causando insatisfação para o cliente e custo de deslocamento desnecessário para a nossa empresa.
Com o monitoramento também conseguimos reduzir os trajetos realizados, e consequentemente, o consumo de óleo diesel, desgaste de frota e etc. As horas extras também acabaram, minimizando as perdas da operação.
O cenário de descontrole de recursos, custos excessivos foi completamente alterado graças a visualização e monitoramento da frota de entrega.
E o que isto significa?
Isto significa que existem excelentes oportunidades de uso de tecnologia dentro das indústrias para alavancar sua eficiência e produtividade. No início do artigo comentei que infelizmente as empresas trabalham de maneira bastante ineficiente, lembram?
Ainda é normal encontrar empresas que em pleno 2020 trabalham de uma maneira bastante arcaica, com o auxílio de planilhas de excel para a gestão de suas operações, que é um trabalho bastante manual e extremamente improdutivo.
Planilhas foram desenvolvidas para realizar cálculos e auxiliar em muitas tarefas administrativas, mas nunca para monitorar ou gerenciar a produção de uma indústria.
De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), apenas 1,6% das indústrias brasileiras estão inseridas no que chamamos de indústrias 4.0 (digitalização da fábrica). Pelo que tenho visto ao visitar as indústrias, a grande maioria ainda não se inseriu nem na 3° revolução industrial (automação de fábrica). O resultado disso são fábricas ineficientes impactando a competitividade da empresa como um todo.
Como aumentar a eficiência da minha indústria?
Existem há bastante tempo ferramentas tecnológicas que ajudam as indústrias e principalmente o PPCP a resolver grande parte dos problemas citados neste artigo, dentre eles posso citar os sistemas APS e MES.
Tais como o GPS e o sistema de Telemetria do exemplo acima, os softwares APS (Advanced Planning & Scheduling) e MES (Manufacturing Execution System) norteiam e controlam os recursos produtivos de uma indústria durante o processo de fabricação.
APS – Advanced planning and scheduling
O APS é uma ferramenta de planejamento e programação fina de produção capaz de gerar a programação completa de qualquer modelo produtivo em uma fração de segundos.
Sejam quais forem as complexidades da sua planta, o APS ajuda o time de PPCP a encontrar rapidamente as melhores alternativas de programação que gerem reduções de setup, aumento da performance de entrega, minimização de custos, entre outros objetivos.
Capaz de abordar todas as restrições da fábrica (matéria-prima, ferramentas, mão de obra, entre outras) o APS permite que o PPCP execute uma programação confiável e alinhada à estratégia da empresa. Com a visibilidade de todo o processo os programadores conseguem antecipar ações para atendimento dos prazos de entrega, antever faltas de materiais, etc.
Tal qual um GPS define o melhor trajeto para a sua viagem, o APS define o melhor trajeto para a produção de cada uma de suas ordens ou pedidos sinalizando os eventuais riscos no percurso. Por vezes me pergunto, como um gestor de produção que não sai de casa sem planejar sua rota em um GPS é capaz de deixar sua indústria operar sem essa visibilidade?
MES - Manufacturing Execution System
O MES é um sistema de controle de produção utilizado para gerenciar e monitorar todos os processos de trabalho, fornecendo informações em tempo real provinda de máquinas, funcionários e robôs. Ele confronta o que foi planejado com o que realmente está sendo executado.
O controle pode ser realizado de forma automática por coletores inseridos nos recursos fabris, que enviam as informações para o sistema ERP e/ou sistema de APS, ou ainda de forma manual através dos apontamentos realizados pelos operadores no chão de fábrica.
Tal qual um sistema de telemetria, o MES acompanha a execução das atividades em tempo real e reporta para o seu APS o status do andamento dos trabalhos, permitindo que o APS atualize as programações e recalcule as rotas exatamente como o GPS do seu carro.
Com estas soluções trabalhando em conjunto as possibilidades de sua fábrica operar de maneira mais eficiente aumentam consideravelmente.
E por onde devo começar: APS ou MES
Esta é uma pergunta recorrente. Como vimos, a sinergia entre as soluções é enorme e, por isso, o melhor cenário é trabalhar com ambas de maneira integrada. Agora, se você não tiver disponibilidade para implementar ambos os sistemas, existem algumas variáveis que você deverá levar em conta no processo de escolha, mas esta análise eu deixarei para o nosso próximo artigo.
Sobre o Autor
João Paulo Cadorin
Gerente de Contas na Lean Scheduling Brasil