Quando os sistemas APS (Advanced Planning and Scheduling) surgiram no início dos anos 90, muitas empresas de ERP se apressaram em descartar essa nova tecnologia excitante sem ao menos tomar o tempo necessário para entender o potencial que elas trariam. Mesmo com milhares de casos de sucesso, algumas pessoas ainda se prendem a mitos para lutar contra o progresso natural na gestão da produção.
A lista de mitos a seguir foi compilada nos últimos 20 anos por uma série de defensores experientes dos sistemas de planejamento e programação com capacidade finita. A lista é baseada em inúmeros casos de sucesso tão válidos hoje quanto já foram no passado. O objetivo desta lista é contrariar algumas informações equivocadas que foram publicadas ao longo dos últimos anos. A maioria destes mitos foi disseminada por aqueles que não compreendem a natureza do problema, tão pouco da solução. Vamos a lista.
1 - Meu sistema ERP pode solucionar meus problemas de Programação da Produção.
A menos que seu sistema ERP possua um sistema APS integrado, essa afirmação está completamente equivocada. A tentativa de resolução de problemas de programação da produção com a lógica padrão de sistemas ERP/MRP equivale a tentar resolver um problema TRIDIMENSIONAL com uma lógica BIDIMENSIONAL, em outras palavras, não pode ser realizado em tempo hábil e, tão pouco, com a precisão necessária.
2 - Se eu adquirir o módulo de Programação da Produção do meu fornecedor de ERP não terei problemas de integração de dados.
Embora isso possa parecer uma boa ideia, na verdade não costuma ser. Isso porque poucos fornecedores de ERP tinham, ou tem, o conjunto de habilidades necessárias para desenvolver e implementar seu próprio módulo de programação da produção, então muitos deles buscaram e compraram no mercado soluções especialistas para complementar seu portfólio. Uma explicação detalhada de por que essa abordagem não costuma funcionar pode ser encontrada no capítulo "Uma história simplificada dos sistemas ERP", no livro The Little Blue Book on Scheduling.
A resposta simples é que mesmo que eles tenham integrado com sucesso o APS a sua oferta de ERP (e isso não é uma afirmação), a maioria das empresas de ERP não tem o conjunto de habilidades para continuar desenvolvendo o sistema APS e, tão pouco, a habilidade necessária para implantar corretamente essa solução. As empresas de ERP tendem a oferecer módulos transacionais no estilo plug and play com algumas configurações básicas. Esta abordagem não funciona na programação da produção onde seu sistema precisa trabalhar com um nível de detalhe que lhe permita modelar o mundo real. Se a sua programação da produção (sequenciamento) não faz sentido para os operadores no chão de fábrica, então eles não irão segui-la e seu sistema APS não terá valor.
3 - Minhas prioridades mudam tanto que minha programação está desatualizada antes mesmo de ser liberada.
Isso pode estar certo, tanto que em alguns cenários é possível organizar a programação uma vez por semana. O principal benefício de um sistema APS é que ele é capaz de, em frações de segundos e a qualquer momento, refletir e atualizar as prioridades de produção que estão constantemente mudando. Assim, a programação atualizada em tempo real lhe permite tomar decisões rápidas e inteligentes de forma sistemática. Ser capaz de entender as relações de causa e efeito em alta velocidade diferencia você de sua concorrência.
4 - Nossos programadores sabem que o ERP não suporta a programação da produção e acabaram criando suas próprias soluções em planilhas Excel.
Essa parece mais do que uma boa ideia, é um caminho natural a seguir quando não dispomos das ferramentas adequadas. Entretanto o capítulo intitulado "Excel, o falso Messias", também do The Little Blue Book on Scheduling, traz uma explicação completa sobre o por que essa não é uma boa ideia. Resumidamente, a ilusão de que o Excel oferece algum controle é rapidamente contraposta pelo tempo exorbitante gasto para manter a programação atualizada sem que se tenha os benefícios padrões de um sistema especialista em programação da produção, tais como uma programação visual, integrada e que possua a capacidade de simular diferentes cenários para a tomada de decisão mais assertiva para cada momento da empresa. Se a programação não estiver atualizada e refletindo a realidade da fábrica ela não lhe servirá.
5 - Estamos implementando conceitos de Lean Manufacturing e os consultores nos disseram que não precisamos de um sistema informatizado de programação de produção.
Substituir lógicas complexas de ERP/MRP por sistemas manuais como Kanban orientados pela demanda é muito tentador, mas possui limitações. A própria Toyota reconhece as limitações dessas técnicas em um modelo de negócios completamente orientado pela demanda. Isso ocorre porque os sistemas manuais não permitem o planejamento baseado nas restrições de capacidade, o que se torna crítico quando os pulmões de tempo e estoques foram removidos dessa equação. Na maioria dos casos, um sistema APS irá apoiar e melhorar suas iniciativa em Lean.
6 - Os sistemas APS custam caro.
Quando você investe em um sistema que não reflete sua realidade, qualquer valor despendido pode ser considerado caro. Por outro lado, um bom sistema de programação pode se pagar quase que da noite para o dia e será capaz de adicionar milhares/milhões de reais ao seu lucro ao final do ano. Se você vende capacidade (transformada em produto), quais outras ferramentas você tem para gerenciar esse processo? Se você não gerencia esse processo, você poderá vender sua capacidade no conceito de que o primeiro que chegar é o primeiro a ser atendido e esta é uma ótima maneira de perder seus principais clientes.
7 - Eu mesmo posso implementar meu sistema de programação.
Embora isso possa ser verdade em alguns casos, você precisará de alguém com grande conhecimento sobre o processo de fabricação e sobre o software que está implementando. Em suma, o sucesso do sistema depende de sua capacidade de alinhar as necessidades de sua empresa as funcionalidades do software. O retorno sobre o investimento pode ser 10 ou 100 vezes melhor quando a implantação é bem-feita e a programação respeita todos os processos e restrições de seu negócio.
8 - O meu negócio é diferente de qualquer outro.
Sim, isso provavelmente é verdade. Embora a origem/base dos problemas sejam sempre as mesmas, as soluções podem variar muito. Um dos pontos fortes de um bom sistema de programação da produção é a flexibilidade para se adaptar as necessidades de seu negócio de modo que você não precise adaptar o seu negócio ao sistema. Neste caso é fundamental encontrar o apoio de alguém com a experiência e conhecimento do sistema para lhe guiar ao longo do processo de implantação.
9 - O que acontece quando minhas necessidades mudam e eu já realizei alterações significativas no meu sistema APS?
Eu ficarei de fora do processo de atualização de novas versões do sistema?
Essa é uma boa pergunta e a resposta é que, ao contrário da maioria dos sistemas ERP, os melhores sistemas de programação da produção são desenhados para serem customizados de forma semelhante a planilhas Excel. Isso significa que a atualização de versão pode ser realizada com o mínimo de esforço porque regras complexas podem ser implementadas sem impactar na raiz do sistema (CORE). Se você escolheu o sistema APS certo, então atualizá-lo para a versão mais nova não deve ser mais difícil do que seria instalar uma nova versão do Excel.
10 - Eu não quero manter dados base em dois sistemas.
Essa é uma preocupação válida. Um bom sistema APS terá a possibilidade de integrar dados diretamente de seu ERP, de seu sistema MES (controle de chão de fábrica) e qualquer outro sistema que possa fornecer informações importantes para o planejamento e programação da produção, como um sistema de compras, não necessitando duplicar cadastros.
Fonte: adaptado de LSI disponível em http://lean-scheduling.com/Misc_10_APS_Myths.html